O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Carlos Viana de Carvalho, afirmou que a taxa neutra, que é aquela que não acelera nem desacelera a economia, está bem acima do que é indicado pelo modelo atual do BC. Segundo ele, essa taxa é um dos principais fatores que influenciam as expectativas de inflação, que estão acima da meta estabelecida pelo governo.
Em entrevista ao InfoMoney, Viana de Carvalho, que atualmente é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explicou que a taxa neutra é um conceito teórico que representa o nível de juros que não estimula nem desestimula a economia. Ou seja, é o ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda por crédito. Quando a taxa de juros está acima da neutra, a tendência é que a economia desacelere, enquanto que quando está abaixo, a economia tende a se aquecer.
No entanto, o ex-diretor do BC acredita que a taxa neutra atual está bem acima do que é indicado pelo modelo utilizado pela instituição. Ele explica que o modelo do BC considera apenas a inflação passada e a expectativa de inflação futura, mas não leva em conta outros fatores importantes, como o nível de atividade econômica e a taxa de câmbio.
Viana de Carvalho ressalta que, atualmente, a economia brasileira está em um momento de recuperação, com a inflação controlada e a atividade econômica em crescimento. Porém, a taxa de juros ainda está em um patamar elevado, o que pode desestimular o consumo e o investimento, prejudicando a retomada do crescimento.
Além disso, o ex-diretor do BC também aponta que as expectativas de inflação estão acima da meta estabelecida pelo governo. Segundo ele, isso é um reflexo da incerteza em relação às políticas econômicas do novo governo e também da falta de credibilidade do BC em cumprir suas metas de inflação. Para Viana de Carvalho, essa situação é preocupante, pois pode gerar uma espiral inflacionária, com aumento de preços e perda do poder de compra da população.
Diante desse cenário, Viana de Carvalho defende que é necessário rever o modelo utilizado pelo BC para calcular a taxa neutra. Ele sugere que o modelo leve em consideração outros fatores, como o nível de atividade econômica e a taxa de câmbio, para que a taxa neutra seja mais próxima da realidade e possa ser utilizada como uma ferramenta eficaz na condução da política monetária.
O professor da FGV também destaca a importância de uma comunicação clara e transparente por parte do BC, para que as expectativas de inflação sejam ancoradas e a população confie na capacidade da instituição em cumprir suas metas. Além disso, ele ressalta que é necessário manter a independência do BC e garantir que ele tenha autonomia para tomar decisões baseadas em critérios técnicos e não políticos.
Para finalizar, Viana de Carvalho afirma que é fundamental que o governo adote medidas para reduzir a incerteza econômica e política, para que a economia possa se recuperar de forma mais sólida e sustentável. Ele acredita que, com uma taxa neutra mais próxima da realidade e uma comunicação eficaz do BC, as expectativas de inflação podem ser ancoradas e a economia brasileira pode voltar a crescer de forma consistente e duradoura.